sexta-feira, 2 de maio de 2014



AWÁ

 

 

O desmatamento não daria só uma fome aqui, para os vivos, mas uma fome celeste”

 

Disponível em http://oglobo.globo.com/pais/para-os-awa-tragedia-do-desmatamento-atinge-terra-o-ceu-9338290

Conhecidos também como Guaja, seu nome quer dizer gente, homem. Estão localizados no Maranhão. Já foram também chamados de homens invisíveis. São povos nômades e vivem da caça e pesca. Tal etnia, na verdade constituem-se em vários pequenos grupos que se juntaram em determinado momento da historia. Sua movimentação na floresta se dá sempre por pressões externas.


Na esfera religiosa dos Guajá, há uma participação complementar entre o homem e a mulher. É o que se evidencia no cerimonial de "viagem para o céu" (ohó iwa-beh). Esta cerimônia é praticada durante o período da estiagem nas noites de lua cheia. Os homens se preparam para embarcar nesta viagem com a assistência de suas mulheres que os adornam com a plumagem de aves. Mais tarde, os homens dançam e cantam ao redor de uma takaia (uma variante deste termo, tocaia, foi tomada da língua geral, que era tupi, pelo português, com o significado de construção para emboscadas e outras finalidades), construída no descampado da aldeia. Entram individualmente na takaia, em cujo interior continuam cantando até se impelirem para o céu com o forte bater de seus pés. Quando os homens penetram o céu, lá se encontram com os seus antepassados e outras entidades espirituais. Eles interagem com estas entidades e efetuam um "câmbio" de espíritos para retornar a terra. Ao retornarem, os homens descem "incorporados" e dançam em direção às suas mulheres e outros familiares. Dialogam com elas através do canto e "benzem" os seus familiares com sopros.
Em seguida, as suas mulheres solicitam a presença de outros espíritos e, assim, os homens voltam ao céu para trazer outras entidades. As mulheres têm uma participação ativa neste processo: embora não façam a "viagem para o céu", elas comandam o evento solicitando de seus maridos que tragam determinadas entidades para consultas e curas. O homem serve como uma espécie de veículo e elo entre o mundo dos espíritos e a terra.


MULHERES NA TRIBO AWÁ


“As mulheres dessa tribo, em alguns casos, tem um papel decisivo, fato pouco comum nas sociedades indígenas. A opinião das idosas é levada em conta e ela pode tanto resolver conflitos domésticos como dividir as tarefas de roçar, caçar e coletar. Elas também cuidam dos animais de estimação, muito numerosos na tribo, e eles, muitas vezes, são até amamentados pelas mulheres mais jovens.Pode acontecer que um homem se case ao mesmo tempo com duas mulheres, uma sexagenária e outra bem jovem, mas a primeira, além de receber todo o carinho e respeito do marido, tem ainda poder para tomar as decisões principais da casa. A mulher pode também ter vários matrimônios sucessivos.”( http://guaja.tripod.com/id2.html)

Informações relevantes

São considerados povos isolados ou de recente contato, o que começou a acontecer nos fins da década de 70. No entanto, ainda hoje há aqueles que não foram contactados, fugindo e adentrando cada vez mais para dentro da floresta.

 Encontrar informações concretas sobre esse povo não é tarefa fácil, isso porque a FUNAI adotada a política de preservação e proteção das etnias de recente contato e isolados. Para evitar a intromissão de pessoas, ong’s, gringos, políticos e outros na vida deles. Além do fato de que pelo pouco contato, são extremamente vulneráveis a doenças. Vaz (2011) diz que “ durante séculos, a maioria das estratégias das políticas de contato provocou efeitos desastrosos para os povos indígenas” (p.09). Trazendo sérias conseqüências de cunho socioeconômico e cultural. Mediante essas circunstâncias surgiram questões sobre políticas que promovessem a proteção dos povos. 

De acordo com Vaz foi em 87, preocupados com essas questões foi promovido o I Encontro de Sertanistas, pela FUNAI, sertanistas, antropólogos, lingüistas e indigenistas.

Sob argumento de que a promoção do contato incute nos índios necessidades as quais jamais tiveram além de desordem social e principalmente a morte. Aqui se começou a ter um reconhecimento de que o contato é totalmente prejudicial à cultura e existência do povo indígena.

Assim sendo, ainda nesse ano, o presidente da FUNAI estabeleceu as Diretrizes para a coordenadoria de índios isolados e o Sistema de proteção ao índio isolado. De maneira geral, a partir desse ponto, a ação de contato só acontecerá se for comprovada que o grupo isolado estiver em situações insustentáveis em relação sua existência e território. Entendo o contato necessário quando for medida indispensável de proteção.

 

De acordo com o site da Survivel
A oeste do território Awá está  a maior mina de minério de ferro do planeta. Os trens que se estendem por cerca de 2 km (1¼ milhas passam a poucos metros das florestas onde ainda vivem Awá isolados.
Quando os 900km (550 milhas) de ferrovia foi construído na década de 1980, as autoridades decidiram contatar e assentar muitos dos Awá cujas terras foram cortadas pelo projeto. Logo, o desastre seguiu na forma de malária e gripe: das 91 pessoas em uma comunidade, apenas 25 estavam vivos quatro anos depois.

Atualmente, além do barulho a ferrovia traz invasores para a terra Awá, que estão em busca de terra e caça. A Survivel observa que
Colonos invasores não necessariamente significam o fim para os Awá. Outras tribos no Brasil, como os Yanomami, sofreram invasões devastadoras. Eles se recuperaram quando o governo foi pressionado a tomar medidas para proteger suas terras.

 

 

 

 

Vídeo http://www.youtube.com/watch?v=eFe_4e2-TuI

 

Tal povo tem fortíssima ligação com a natureza, Porem, não se pode falar de Awá sem falar da constante ameaça de madeireiros e do homem branco. De acordo com a jornalista Miriam Leitão,

“ os poucos mais de 400 Awá que povoam o que restou da Floresta Amazônica no Maranhão vivem o momento mais decisivo de sua sobrevivência: impedir que grileiros, posseiros e madeireiros destruam o seu mais valioso bem. É das árvores e da mata densa situadas na Reserva Biológica do Gurupi, de onde tiram o seu alimento, a sua certeza de amanhã poderem garantir a continuação de seu povo, de sua gente. Eles não querem nada mais do que a garantia do governo federal de que não terão o seu território devastado pela ganância do homem branco, que avança a passos largos em busca de madeira nobre. “

 

http://www.youtube.com/watch?v=KIpjfbczPFg 

A Justiça ordenou a desocupação da terra pelos não índios. Mesmo vencendo a batalha judicial, a uma temeridade quando sua existência, isso porque a floresta vem passando por um processo de destruição vertiginoso, comprometendo diretamente a existência deles.

Para essa etnia a natureza assegura a existência da vida aqui na terra e também no após morte, o fim da floresta é para eles o fim do mundo. Ameaça a vida dos vivos e dos mortos, pois, de acordo com suas crenças ao morrerem seus espíritos vão para outra dimensão, mas que também é floresta, vivendo nela e tornando-se parte dela.

 

Os Awá conhecem suas florestas intimamente. Todos os vales, igarapés, e trilhas estão inscritos no seu mapa mental. Eles sabem onde encontrar o melhor mel, quais árvores grandes na floresta estão produzindo frutas, e quando os animais estão pronto para serem caçados. Para eles, a floresta é a perfeição: eles não podem imaginar o seu desenvolvimento ou melhoria.
‘Os forasteiros estão chegando, e a nossa floresta está sendo engolida’, diz Takia Awá. (http://www.survivalinternational.org/pt/awa)

 

 

O momento é de tensão, de acordo com Miriam, eles sempre fugiram, mas agora não há mais pra onde fugir. Tudo que eles têm para vida e para depois dela é o pouco de floresta que restou.

ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, afirmou que a desintrusão — retirada dos não indígenas da Terra Awá, no Maranhão — será executada neste segundo semestre, e que o governo irá com tudo: “Força Nacional, Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Ibama, Funai e apoio logístico das Forças Armadas”. Ele admitiu que será difícil. “Sabemos que haverá resistência, mas lá não há ocupantes de boa fé”. Cardozo garantiu que “a lei será cumprida” e informou que “o Plano Operacional já foi apresentado ao Judiciário”.(O GLOBO, 2013)

 

A desintrusão da terra indígena Awá, foi realizada neste ano de 2014. Agora o desafio é a manutenção do território para usufruto exclusivo dos awá para sua reprodução física e cultural.

Percebemos aqui que as batalhas são incessantes, e a ideia que se tem é que nunca terá fim, elas vão ocorrendo em níveis e a cada novo avanços, novos problemas vão surgindo.

 

Outro lado da moeda
Durante as pesquisas realizadas para o desenvolvimento deste trabalho, encontrei no site da Survival Internacional, grande volume de informações sobre os povos Awa, inclusive com uma campanha para salvar esse povo incentivando o Governo Brasileiro, através do Ministro da Justiça a fazer algo em caráter de urgência para acabar com o desmatamento e a ocupação da área. A Survival International trata-se de
 “uma organização mundial de apoio aos povos indígenas cujo objetivo é ajudar-lhes a defender as suas vidas, proteger as suas terras e decidir o seu próprio futuro. Foi fundada em 1969” (Wikipédia)
 Nota-se, portanto que sempre houve grande pressão dos organismos internacionais nos processo de homologação e demarcação da terra Indígena Awá, bem como na retirada das famílias de não-índios da Terra Indígena, que se arrastou por anos, desde a Eco 92. Depois de concluído o processo, ainda permanecia o problema das famílias que viviam dentro da reserva com o aval do próprio governo do Estado do Maranhão. Iniciou então um forte incentivo de ocupação da área e um desmatamento desenfreado, para tentar fraudar os processos demarcatórios, justificando a posse da terra por posseiros através da ocupação da área. Frente essa situação entra em cena a pressão internacional, juntamente com o trabalho incansável da FUNAI, que gerou o processo judicial que determinou a desintrusão da Terra Indígena. Porém podemos levantar algumas questões sobre os reais interesses que podem estar por detrás desse processo, não sendo meramente a "reprodução física e cultural" destes indígenas, mas também lobby, marketing, pra fomentar interesses diversos, uma forma de lavar as mãos com o pano de fundo da salvaguarda dos direitos dos povos indígenas. Neste caso, os Awa, mas tendo em seu bojo interesses políticos, econômicos estratégicos para a visão do Brasil frente aos interesses internacionais. Perante esses embates, percebemos que a questão indígena está sempre envolvida nas mais variadas discussões e envolvem varias intituições, que trazem consigo quase sempre interesses particulares, que não a preservação cultural desses povos. Dessa forma, varias questões poderiam ser levantadas. Mas acreditamos que uma única, e mais urgente de ser respondida destaca-se. Qual a garantia que os povos indígenas Awá têm para sua existência, frente esse jogo de interesse das instituições?

 

 

Alunas:  

Patrícia Stefani e Gabriela

 

Colaboração:

Bruno Silva (FUNAI)


Referência:

VAZ, Antenor. ISOLADOS NO BRASIL Política de Estado: Da tutela para a política de direitos – uma questão resolvida. Informe 10. IWGIA – 2011


Fontes de pesquisa:





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