AWÁ
“O desmatamento não daria só uma fome
aqui, para os vivos, mas uma fome celeste”
Disponível em http://oglobo.globo.com/pais/para-os-awa-tragedia-do-desmatamento-atinge-terra-o-ceu-9338290
Conhecidos também como Guaja, seu nome
quer dizer gente, homem. Estão localizados no Maranhão. Já foram também
chamados de homens invisíveis. São povos nômades e vivem da caça e pesca. Tal
etnia, na verdade constituem-se em vários pequenos grupos que se juntaram em
determinado momento da historia. Sua movimentação na floresta se dá sempre por
pressões externas.
Na esfera religiosa dos Guajá, há uma participação
complementar entre o homem e a mulher. É o que se evidencia no cerimonial de
"viagem para o céu" (ohó iwa-beh).
Esta cerimônia é praticada durante o período da estiagem nas noites de lua
cheia. Os homens se preparam para embarcar nesta viagem com a assistência de
suas mulheres que os adornam com a plumagem de aves. Mais tarde, os homens
dançam e cantam ao redor de uma takaia (uma
variante deste termo, tocaia, foi tomada da língua geral, que era tupi, pelo
português, com o significado de construção para emboscadas e outras
finalidades), construída no descampado da aldeia. Entram individualmente na takaia, em cujo interior continuam
cantando até se impelirem para o céu com o forte bater de seus pés. Quando os
homens penetram o céu, lá se encontram com os seus antepassados e outras
entidades espirituais. Eles interagem com estas entidades e efetuam um
"câmbio" de espíritos para retornar a terra. Ao retornarem, os homens
descem "incorporados" e dançam em direção às suas mulheres e outros
familiares. Dialogam com elas através do canto e "benzem" os seus
familiares com sopros.
Em seguida, as suas mulheres solicitam a presença de
outros espíritos e, assim, os homens voltam ao céu para trazer outras
entidades. As mulheres têm uma participação ativa neste processo: embora não
façam a "viagem para o céu", elas comandam o evento solicitando de
seus maridos que tragam determinadas entidades para consultas e curas. O homem
serve como uma espécie de veículo e elo entre o mundo dos espíritos e a terra.
MULHERES
NA TRIBO AWÁ
“As mulheres dessa tribo, em alguns
casos, tem um papel decisivo, fato pouco comum nas sociedades indígenas. A
opinião das idosas é levada em conta e ela pode tanto resolver conflitos
domésticos como dividir as tarefas de roçar, caçar e coletar. Elas também
cuidam dos animais de estimação, muito numerosos na tribo, e eles, muitas
vezes, são até amamentados pelas mulheres mais jovens.Pode acontecer que um
homem se case ao mesmo tempo com duas mulheres, uma sexagenária e outra bem
jovem, mas a primeira, além de receber todo o carinho e respeito do marido, tem
ainda poder para tomar as decisões principais da casa. A mulher pode
também ter vários matrimônios sucessivos.”(
http://guaja.tripod.com/id2.html)
Informações
relevantes
São
considerados povos isolados ou de recente contato, o que começou a acontecer
nos fins da década de 70. No entanto, ainda hoje há aqueles que não foram
contactados, fugindo e adentrando cada vez mais para dentro da floresta.
Encontrar informações concretas sobre esse
povo não é tarefa fácil, isso porque a FUNAI adotada a política de preservação
e proteção das etnias de recente contato e isolados. Para evitar a intromissão
de pessoas, ong’s, gringos, políticos e outros na vida deles. Além do fato de
que pelo pouco contato, são extremamente vulneráveis a doenças. Vaz (2011) diz
que “ durante séculos, a maioria das estratégias das políticas de contato
provocou efeitos desastrosos para os povos indígenas” (p.09). Trazendo sérias
conseqüências de cunho socioeconômico e cultural. Mediante essas circunstâncias
surgiram questões sobre políticas que promovessem a proteção dos povos.
De acordo com
Vaz foi em 87, preocupados com essas questões foi promovido o I Encontro de
Sertanistas, pela FUNAI, sertanistas, antropólogos, lingüistas e indigenistas.
Sob argumento
de que a promoção do contato incute nos índios necessidades as quais jamais
tiveram além de desordem social e principalmente a morte. Aqui se começou a ter
um reconhecimento de que o contato é totalmente prejudicial à cultura e existência
do povo indígena.
Assim sendo,
ainda nesse ano, o presidente da FUNAI estabeleceu as Diretrizes para a
coordenadoria de índios isolados e o Sistema de proteção ao índio isolado. De
maneira geral, a partir desse ponto, a ação de contato só acontecerá se for
comprovada que o grupo isolado estiver em situações insustentáveis em relação
sua existência e território. Entendo o contato necessário quando for medida
indispensável de proteção.
De acordo com o site da Survivel
A oeste do território Awá está a maior mina de minério de ferro do planeta.
Os trens que se estendem por cerca de 2 km (1¼ milhas passam a poucos metros
das florestas onde ainda vivem Awá isolados.
Quando os 900km (550 milhas) de ferrovia foi
construído na década de 1980, as autoridades decidiram contatar e assentar
muitos dos Awá cujas terras foram cortadas pelo projeto. Logo, o desastre
seguiu na forma de malária e gripe: das 91 pessoas em uma comunidade, apenas 25
estavam vivos quatro anos depois.
Atualmente, além do barulho a ferrovia traz
invasores para a terra Awá, que estão em busca de terra e caça. A Survivel
observa que
Colonos invasores não necessariamente significam
o fim para os Awá. Outras tribos no Brasil, como os Yanomami, sofreram invasões
devastadoras. Eles se recuperaram quando o governo foi pressionado a tomar
medidas para proteger suas terras.
Vídeo http://www.youtube.com/watch?v=eFe_4e2-TuI
Tal povo tem
fortíssima ligação com a natureza, Porem, não se pode falar de Awá sem falar da
constante ameaça de madeireiros e do homem branco. De acordo com a jornalista
Miriam Leitão,
“ os poucos mais de 400 Awá que povoam o que restou
da Floresta Amazônica no Maranhão vivem o momento mais decisivo de sua
sobrevivência: impedir que grileiros, posseiros e madeireiros destruam o seu
mais valioso bem. É das árvores e da mata densa situadas na Reserva Biológica
do Gurupi, de onde tiram o seu alimento, a sua certeza de amanhã poderem
garantir a continuação de seu povo, de sua gente. Eles não querem nada mais do
que a garantia do governo federal de que não terão o seu território devastado
pela ganância do homem branco, que avança a passos largos em busca de madeira
nobre. “
http://www.youtube.com/watch?v=KIpjfbczPFg
A Justiça
ordenou a desocupação da terra pelos não índios. Mesmo vencendo a batalha judicial,
a uma temeridade quando sua existência, isso porque a floresta vem passando por
um processo de destruição vertiginoso, comprometendo diretamente a existência
deles.
Para essa etnia
a natureza assegura a existência da vida aqui na terra e também no após morte, o
fim da floresta é para eles o fim do mundo. Ameaça a vida dos vivos e dos
mortos, pois, de acordo com suas crenças ao morrerem seus espíritos vão para
outra dimensão, mas que também é floresta, vivendo nela e tornando-se parte
dela.
Os Awá conhecem suas florestas intimamente. Todos
os vales, igarapés, e trilhas estão inscritos no seu mapa mental. Eles sabem
onde encontrar o melhor mel, quais árvores grandes na floresta estão produzindo
frutas, e quando os animais estão pronto para serem caçados. Para eles, a
floresta é a perfeição: eles não podem imaginar o seu desenvolvimento ou
melhoria.
‘Os forasteiros estão chegando, e a nossa
floresta está sendo engolida’, diz Takia Awá. (http://www.survivalinternational.org/pt/awa)
O momento é de
tensão, de acordo com Miriam, eles sempre fugiram, mas agora não há mais pra
onde fugir. Tudo que eles têm para vida e para depois dela é o pouco de
floresta que restou.
ministro da Justiça, José Eduardo
Cardozo, afirmou que a desintrusão — retirada dos não indígenas da Terra Awá,
no Maranhão — será executada neste segundo semestre, e que o governo irá com
tudo: “Força Nacional, Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Ibama,
Funai e apoio logístico das Forças Armadas”. Ele admitiu que será difícil.
“Sabemos que haverá resistência, mas lá não há ocupantes de boa fé”. Cardozo
garantiu que “a lei será cumprida” e informou que “o Plano Operacional já foi
apresentado ao Judiciário”.(O GLOBO, 2013)
A desintrusão
da terra indígena Awá, foi realizada neste ano de 2014. Agora o desafio é a manutenção
do território para usufruto exclusivo dos awá para sua reprodução física e
cultural.
Percebemos aqui
que as batalhas são incessantes, e a ideia que se tem é que nunca terá fim,
elas vão ocorrendo em níveis e a cada novo avanços, novos problemas vão
surgindo.
Outro lado da moeda
Durante as pesquisas realizadas
para o desenvolvimento deste trabalho, encontrei no site da Survival
Internacional, grande volume de informações sobre os povos Awa, inclusive com
uma campanha para salvar esse povo incentivando o Governo Brasileiro, através
do Ministro da Justiça a fazer algo em caráter de urgência para acabar com o
desmatamento e a ocupação da área. A Survival International trata-se de
“uma organização mundial de apoio aos povos
indígenas cujo objetivo é ajudar-lhes a defender as suas vidas, proteger as
suas terras e decidir o seu próprio futuro. Foi fundada em 1969” (Wikipédia)
Nota-se, portanto que sempre houve grande
pressão dos organismos internacionais nos processo de homologação e demarcação
da terra Indígena Awá, bem como na retirada das famílias de não-índios da Terra
Indígena, que se arrastou por anos, desde a Eco 92. Depois de concluído o
processo, ainda permanecia o problema das famílias que viviam dentro da reserva
com o aval do próprio governo do Estado do Maranhão. Iniciou então um forte
incentivo de ocupação da área e um desmatamento desenfreado, para tentar
fraudar os processos demarcatórios, justificando a posse da terra por posseiros
através da ocupação da área. Frente essa situação entra em cena a pressão
internacional, juntamente com o trabalho incansável da FUNAI, que gerou o
processo judicial que determinou a desintrusão da Terra Indígena. Porém podemos
levantar algumas questões sobre os reais interesses que podem estar por detrás
desse processo, não sendo meramente a "reprodução física e cultural"
destes indígenas, mas também lobby, marketing, pra fomentar interesses
diversos, uma forma de lavar as mãos com o pano de fundo da salvaguarda dos
direitos dos povos indígenas. Neste caso, os Awa, mas tendo em seu bojo
interesses políticos, econômicos estratégicos para a visão do Brasil frente aos
interesses internacionais. Perante esses embates, percebemos que a questão
indígena está sempre envolvida nas mais variadas discussões e envolvem varias
intituições, que trazem consigo quase sempre interesses particulares, que não a
preservação cultural desses povos. Dessa forma, varias questões poderiam ser
levantadas. Mas acreditamos que uma única, e mais urgente de ser respondida
destaca-se. Qual a garantia que os povos indígenas Awá têm para sua existência,
frente esse jogo de interesse das instituições?
Alunas:
Patrícia Stefani e Gabriela
Colaboração:
Bruno Silva (FUNAI)
Referência:
VAZ, Antenor. ISOLADOS NO BRASIL Política
de Estado: Da tutela para a política
de direitos – uma questão
resolvida. Informe 10. IWGIA – 2011
Fontes de pesquisa:
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